Vamos bater um papo sobre a diferença entre Vivência vs Experiência.
Você vende um serviço ou produto e chega num estágio da vida profissional que parece não haver mais campo para melhora? Pois bem, entender a diferença entre esses dois termos lhe ajudará a aprimorar suas habilidades naquilo que você faz sem precisar inventar a roda ou enfeitar o pavão.
Farei a aplicação dos conceitos no contexto da minha área de formação e atuação, o turismo, porém serve para outros segmentos.
Vivência vs Experiência
1. Vivência
Refere-se a algo mais imediato, subjetivo e afetivo.
Está ligada à dimensão sensível do sujeito, àquilo que ele sente no momento em que acontece.
É algo pessoal, direto, e que não é necessariamente refletido ou elaborado racionalmente.
Muitas vezes, não é comunicável em sua totalidade.
No contexto do turismo, vivência refere-se a um contato mais imersivo, cotidiano e prolongado com a cultura local. A vivência é muitas vezes mais transformadora, por envolver participação ativa e relacionamento com a comunidade.
Exemplos de vivência no turismo
Passar uma semana morando com uma família ribeirinha na Amazônia, ajudando nas atividades diárias e aprendendo sobre suas tradições.
Participar do ciclo completo de produção de farinha em uma comunidade quilombola, desde a colheita da mandioca até a torrefação.
Viver alguns dias em um terreiro de candomblé, acompanhando a rotina, aprendendo os significados dos rituais e interagindo com os integrantes da casa.
Palavras-chave: imersão, cotidiano, transformação, convivência, aprendizado profundo.
2. Experiência
Refere-se à elaboração e reflexão sobre algo vivido.
Envolve tempo, consciência e integração daquele evento à trajetória do sujeito.
É mediada pelo pensamento, e pode ser transmitida, comunicada, ensinada.
Muitas vezes, a experiência é formada a partir da vivência, mas não se reduz a ela.
Deste modo, experiência é uma atividade pontual e muitas vezes planejada para proporcionar uma sensação marcante ao turista. Pode ser sensorial, emocional ou cultural, mas geralmente é mais curta e estruturada do que uma vivência.
Exemplos de experiência no turismo
Participar de uma oficina de cerâmica com artesãos locais durante uma manhã.
Fazer um tour guiado por lugares históricos de Salvador com degustação de comidas típicas.
Assistir a uma apresentação de capoeira seguida de uma conversa com os mestres do grupo.
Palavras-chave: atividade, impacto, memória, sensorial, envolvimento breve.
Até aqui você percebeu a diferença entre os termos e talvez já começou a imaginar como você pode aumentar a experiência do seu cliente por transformar seu produto em uma vivência e, quem sabe, agregar valor ao seu serviço e conseguir mais clientes.
Trago também os teóricos que iniciaram os estudos sobre vivência vs experiência para podermos lançar outros olhares sobre o tema.
Alguns teóricos que tratam de Vivência vs Experiência
1. Walter Benjamin (1892–1940)
Em seu ensaio “Experiência e Pobreza” e em “O Narrador”, Benjamin distingue Erlebnis (vivência) de Erfahrung (experiência). Para ele, Erlebnis é o vivido imediato, fragmentado, típico da modernidade — onde as pessoas vivem muito, mas aprendem pouco. Enquanto Erfahrung é a experiência acumulada, compartilhável, ligada à tradição, à memória e à narração.
“Uma experiência é algo que nos é narrado — algo que passou de boca em boca.” Ou seja, Benjamin vê a experiência (Erfahrung) como algo que só se realiza plenamente quando é narrada, compartilhada entre gerações. Já a vivência (Erlebnis) seria fragmentada, veloz, individual — típica da modernidade. Daí, a crítica de que a modernidade promove uma perda da experiência profunda.
2. Wilhelm Dilthey (1833–1911)
Dilthey foi um dos primeiros a teorizar sobre a experiência vivida (Erlebnis). Para ele, Erlebnis é a base para o entendimento do ser humano nas ciências do espírito. A vivência é como algo íntimo e singular, mas que pode ser compreendido por meio da interpretação (hermenêutica).
Dilthey valoriza a vivência como a matéria-prima da compreensão humana, especialmente nas ciências do espírito (como história, literatura, antropologia). Mas ele vê que essa vivência precisa ser compreendida, interpretada — e isso se faz por meio da linguagem, da escrita, da arte.
3. John Dewey (1859–1952)
Em “Experiência e Educação”, Dewey entende a experiência como central para a aprendizagem. Para o autor, a experiência é: ativa e reflexiva; deve ter continuidade (conectar-se com experiências anteriores); e interação (entre sujeito e ambiente).
Deste modo, a educação deve transformar vivências em experiências significativas e formadoras. Segundo Dewey,”toda experiência genuína é educativa, mas nem toda experiência é genuína.” Ou seja, a experiência só educa quando há continuidade e interação — ou seja, quando ela se liga a outras experiências e gera transformação.
4. Jorge Larrosa Bondía (1956–)
Em seu texto “Notas sobre a experiência e o saber da experiência”, Larrosa atualiza a discussão ao defender que a experiência não é algo que simplesmente acontece, mas algo que nos toca, nos atravessa, e que requer tempo para ser apropriada. Larrosa critica a sociedade contemporânea por acelerar demais o tempo e impedir a formação de experiências verdadeiras.
Segundo o autor, “a experiência nos acontece, nos toca, nos afeta. […] Não se trata de fazer, mas de deixar que algo nos aconteça.” Assim, a experiência envolve escuta, espera, abertura e subjetividade. Ela não pode ser programada ou medida como um dado. A experiência verdadeira transforma o sujeito.
Portanto, a experiência é o recorte da vivência e precisa ter aprofundamento para o aprendizado ocorrer.
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