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Bahia: Canavieiras hoje e ontem

Bahia: Canavieiras hoje e ontem

Escrito por Vaneza Narciso | Atualizado em:

Em nossa expedição pelo litoral sul da Bahia, visitamos a cidade de Canavieiras, carinhosamente chamada de Canes. É a terra da cabeça de robalo, do maior campeonato de pesca do marlin azul, das cavalgadas, de passeios ciclísticos, das belas praias (embora de água barrenta), de pessoas simpáticas e de muito calor! 


Nossa expedição começou em Camamu, donde zarpamos para Taipu de Fora na Península de Maraú e daí seguimos para Canavieiras passando por algumas praias de Itacaré. Assim, chegamos em Canavieiras a noite, porém a estrada é tranquila e a cidade estava bem movimentada. Ficamos na Pousada Flor da Cacau, administrada pela Tatiana Tedesco. Um local muito agradável e que nos ofereceu um excelente custo benefício. Depois eu conto mais sobre a hospedagem…
 

Deixamos as malas na pousada e fomos procurar um local para comer. Caminhamos até a Avenida principal e entramos na Padaria Brasília, que fica na esquina das Avenidas Rio Branco e Otávio Mangabeira, é a mais antiga da cidade, com preços justos e lanches gostosos. Pedimos um suco de gengibre com abacaxi (quase detox, rsrs) e um sanduíche com carne moída delicioso. Voltamos para a pousada para descansar depois de um dia bem intenso ( conhecemos 3 praias de Itacaré, jantamos em Ilhéus e pegamos estrada até aqui).

Prefeitura de Canavieiras
Prédio da Prefeitura

Matriz de São Boaventura

Matriz de São Boaventura em 1933…quando tudo era areia.

Padaria Brasília, a mais antiga da cidade e que delimitava o antigo município

Noutro dia, saímos cedo para bater perna e conhecer a bela arquitetura da cidade. São casarões antigos e alguns estão bem preservado no Sítio Histórico Paulo Souto.

Atente para os detalhes

Isso é Canavieiras meu irmão!

Conservadíssimo

Que charme e quanta leitura podemos fazer desta imagem…

Praça Eduardo Campos, mas não é o de Pernambuco não. Eduardo Campos era filho
de Canavieiras e foi médico, jornalista e político, tendo exercido um mandato
de vereador. Tinha apenas 33 anos quando morreu em 9 de agosto de 1908.

A Praça Eduardo Campos, no
atual sítio histórico, existe desde 1912, quando o nome do ilustre
canavieirense foi dado oficialmente à antiga Praça do Comércio, que já foi
conhecida por Praça da Cesta e, hoje, é chamada também de Praça do Bradesco

Depois, fomos conhecer a orla da cidade, em busca da famosa cabeça de robalo, porém ficamos sabendo que nesta época ( em Outubro, o caranguejo “está de leite”, o que acreditamos ser a época do defeso). E assim, desta vez, não provamos desta iguaria canavieirense. 


Acredito que 90% da população faça uso da bicicleta. A topografia da cidade também ajuda …

O Instituto de Hotelaria Planet Panzini foi inaugurado em março de 2010 e é mantido por uma ONG italiana. O Instituto oferece cursos profissionalizantes nas áreas de Cozinha, Restaurante e Hospedagem.

antiga Santa Casa de Misericórdia, hoje Instituto Panzini

a bicicleta serve pra tudo…

Passarela do Robalo

Praia da Costa

Praia da Costa



Caminhamos um pouco na areia e o vento era forte, daí seguimos para o centro para almoçarmos e encontramos um restaurante simples (como sempre, rsrs), mas com uma comida saborosíssima. No comando da cozinha avistamos uma negra, bem forte, jogando duro.


Restaurante Avenida


Percebemos outros turistas por ali também almoçando e alguns já fregueses. De pança cheia, seguimos para Arraial d’Ajuda.

Geralmente, as pessoas utilizam Canavieiras como passagem e descanso para seguir caminho até o Sul da Bahia, como foi nosso caso, só pernoitamos lá. Mas se a gente analisar bem, ela merece uns 2 dias inteiros. Tem muita coisa boa para se fazer a depender da época:

praias como de Atalaia, da Costa, de Patipe e outras;
– passeio de catamarã pelo Rio Pardo e de voadeira até Belmonte;

pesca do marlin azul (isso é para os bem afortunados, porém movimenta muito a cidade);
– conhecer a arquitetura da cidade;
Rio Pardo

Construção do cais do porto de Canavieiras

Troféu do campeonato de pesca do marlin azul

E se você estiver hospedado em Comandatuba, dá um “pulinho” em Canes.
No entanto, o momento maravilhoso que tive em Canavieiras, foi conhecer senhor Raimundo Tedesco, nascido em Canavieiras há mais de 70 anos. Ele trabalha na Biblioteca  Municipal Afrânio Peixoto que fica ao lado da Prefeitura. Conheci ele através da sua esposa, a Tatiana, da Pousada Flor do Cacau. Imagine a aula de história que este senhor me deu?! E as fotos?! São raridades e preciosidades que ele compartilhou comigo e que fiquei extremamente agradecida.
Senhor Raimundo Tedesco na porta da Biblioteca

Interessante notar que o trabalho do senhor Raimundo, é árduo. Organizar a memória do Município de Canavieiras, através dos recortes de jornais, revistas e demais publicações noticiosas ou de cunho científico, bem como documentos históricos. Quase todo o material existente está em estado de decomposição e poderia ter sido perdido. Este trabalho é organizado pelo professor e historiador Durval Filho, diretor da Biblioteca que também estava lá e foi muito simpático ao participar da conversa. O senhor Durval Filho por sinal, é o autor do livro “Canavieiras Sua Historia” que conta o início do povoamento e o desenvolvimento de Canavieiras. Pena que só havia 1 exemplar…

E ninguém melhor do que os senhores Durval Filho e Raimundo Tedesco para nos apresentar a Canavieiras antiga. Vamos lá?!

A ocupação desta região sul da Bahia se deu no fim do século XVII e início do
século XVIII formando a Vila de São Jorge dos Ilhéus (atualmente cidade de Ilhéus). Devido aos conflitos com indígenas um grupo de aventureiros se deslocam para o sul da vila e formam o povoado de Una, depois o de Comandatuba e o de Puxim (hoje, Canavieiras). De povoado, Puxim foi elevada em 1718 à freguesia e mais pessoas foram se deslocando à esta freguesia e se estabelecendo na frente da barra do Rio Pardo, chamada de Embucagrande.

A povoação que se desenvolveu em frente à barra do rio Pardo recebeu a
denominação de Canavieiras, em razão da atividade canavieira nela presente (lavoura
baseada na plantação da cana-de-açúcar), ou em razão da junção do nome da atividade
“canavieira” mais o sobrenome de uma importante família que possuía destacados
canaviais na povoação, “os Vieiras”. Contudo, esta última versão é questionada por Costa
(1963), sendo que o mesmo aceita como mais provável a primeira versão.

O primeiro pé de cacau plantado no território do atual estado da Bahia se deu no
ano de 1746, na fazenda Cubículo, às margens do rio Pardo, propriedade do senhor
Antônio Dias Ribeiro. Esta fazenda ficava próxima ao povoado de Canavieiras, e as
sementes foram enviadas do Pará pelo botânico franco-suíço Louis Frederic Warneaux
(CEPLAC, 1982). Contudo, inicialmente essa atividade não se desenvolveu.


 A cacauicultura se desenvolveu muito mais em Ilhéus do que em Canavieiras. O município teve como atividade econômica relevante a extração da piaçaba, porém a cacauicultura se desenvolve a partir de 1860 com a introdução de um tipo de cacau mais resistente. Em Canavieiras, as plantações se concentravam a beira do rio Pardo e Salsa.

França Filho (2009) apresenta que essa expansão da lavoura cacaueira contribuiu
para alterar os costumes e os valores da Comarca e do município de Canavieiras, sendo
que esse desbravamento do interior da floresta possibilitou que na região se formasse uma
espécie de aristocracia rural importante para o desenvolvimento regional. Desse
desbravador, posteriormente vai aparecer a figura do coronel do cacau ou da mineração,
influente nas povoações que surgiram representando poder político e socioeconômico da
região. 

Mas será que Canavieiras só teve o seu apogeu por causa do cacau? Veja só:

Contudo, antes que o cacau viesse a ascender e significar o principal produto
econômico do município de Canavieiras, enquanto a Imperial Vila de Canavieiras
passava dificuldades socioeconômicas, em 1882 é descoberta na região do Salobro –
interior do município – uma mina de diamantes. Esses diamantes começam a ser
extraídos e comercializados, dando início à atividade mineradora a partir de 1883,
perdurando em escala ascendente por cerca de uma década, quando então passa a
declinar (REIS, 2006).

Assim, houve um fluxo migratório, pessoas de diversas localidades afluíram a Canavieiras fazendo surgir povoados. Com a decadência da mineração, a mão de obra e o capital se concentra no cultivo do cacau. E qual a relevância da produção do cacau nesta região? Note só:

No âmbito do estado da Bahia o cacau passa a ser o principal produto de
exportação em 1903 superando o café
que, até o momento, era o seu principal produto
de exportação. Já no ano de 1905 o cacau dava uma parcela de contribuição de
aproximadamente 19% de sua renda tributária ao estado (CEPLAC, 1982).

E qual foi o impacto deste crescimento na região e em que contribui para o setor de transportes? Observe o que diz Nascimento; Dominguez e Silva (2009, p.12):
do ponto de vista regional, a marca para o desenvolvimento da cultura cacaueira deu-se,
entre 1931 e 1934, com o escoamento da produção, após a implantação da linha
ferroviária
que interligava centros produtores como Ilhéus, Itabuna, Uruçuca e Itajuípe
e a construção das rodovias entre Itabuna e Buerarema, em 1930, e entre Itapebi e o
porto fluvial
do Jequitinhonha, em 1941.


Daí, alguns anos à frente, segundo Mascarenhas (2004, p. 17), na região sul da Bahia: 
nos últimos anos, a queda dos preços do cacau, a ocorrência de estiagens e, mais
recentemente, a incidência da vassoura-de-bruxa nos cacauais exerceram um profundo
impacto negativo
sobre o agronegócio cacau e a sociedade regional.

Em Canavieiras,  o primeiro caso de vassoura-de-bruxa oficialmente
registrado foi em 1992.

Além da mineração e da cacauicultura, esta cidade desenvolveu a pecuária como atividade econômica, embora de maneira tímida. E algo que teve muita influência na economia da cidade foi o poder político, sempre muito disputado!
Para ver o artigo completo clique aqui.
Depois de toda essa aula e viagem na história, vamos ver algumas fotos antigas de Canavieiras cedidas pelo senhor Raimundo Tedesco:

Cais do Porto de Canavieiras

Antigo posto da Panair, pioneira na aviação comercial do Brasil. Haviam vôos que saiam do Rio de Janeiro com destino a Recife e uma das paradas era em Canavieiras

Inauguração do primeiro açougue de Canavieiras

Navio produzido na Alemanha

Hidroavião no porto de Canavieiras

Hidroavião em Canavieiras

Vista aérea da Praça da Cesta
Não deixe de visitar Canavieiras!

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O blog Vaneza com Z  não possui parceria/ convênio com as empresas/ serviços citados no texto.


2 comentários em “Bahia: Canavieiras hoje e ontem”

    1. Olá Marcelle!

      Que honra sua visita aqui no blog.
      Como não divulgar um registro histórico desta bela cidade.
      Enfrentamos vários desafios e dificuldades, mas a história não pode ser deixada de lado e a fotografia tem um papel importantíssimo nisto.

      Abração!

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