El Caminito em Buenos Aires é um exemplo notável de como a arte e a cultura podem revitalizar uma comunidade e atrair atenção global. Trata-se de um museu de rua em La Boca, Buenos Aires, criado por artistas locais, incluindo o pintor Quinquela Martins. Neste post, trago algumas considerações sobre o impacto social e econômico dessa transformação no contexto do turismo.
História de El Caminito em Buenos Aires
El Caminito, localizado no bairro de La Boca em Buenos Aires, é um dos pontos turísticos mais emblemáticos da cidade. Sua história remonta ao final do século XIX, quando a área era um porto movimentado e um local de residência para imigrantes europeus, principalmente italianos. La Boca, com suas casas coloridas feitas de chapas metálicas, refletia a herança cultural e a resiliência dos seus moradores. O próprio nome “Caminito” foi inspirado por um tango homônimo, composto por Juan de Dios Filiberto, que nasceu e cresceu na região.
O bairro enfrentou um período de declínio no século XX, quando a atividade portuária diminuiu e muitas das indústrias locais fecharam. No entanto, na década de 1950, um grupo de artistas locais, liderados por Benito Quinquela Martín, um famoso pintor e morador de La Boca, decidiu revitalizar a área. Eles transformaram a antiga linha de trem abandonada em uma rua-museu ao ar livre, decorada com murais e esculturas que celebram a rica herança cultural do bairro. Desta maneira, a influência de Benito Quinquela Martín vai além da arte; ele moldou a paisagem cultural de La Boca, tornando-a um local significativo para moradores e turistas.
Inclusive encontra-se em La Boca o pouco conhecido Museu de Belas Artes de La Boca de Artistas Argentinos “Benito Quinquela Martín”, a qual é uma das instituições que o artista de La Boca doou ao bairro com a intenção de criar um polo de desenvolvimento cultural, educacional e sanitário.
Importância Social e Econômica
El Caminito desempenhou um papel crucial na revitalização de La Boca, transformando-se em um centro de atividade cultural e turística. Hoje, a rua é um símbolo da identidade porteña, atraindo milhares de visitantes anualmente que vêm para admirar a arte, assistir a apresentações de tango e explorar as lojas de souvenirs e os restaurantes locais.
A importância econômica de El Caminito para Buenos Aires é significativa. O turismo gerado pela área contribui substancialmente para a economia local, criando empregos e impulsionando o desenvolvimento de infraestrutura e serviços. Além disso, El Caminito serve como um ponto de encontro cultural, onde tanto turistas quanto residentes podem apreciar e celebrar a rica história e tradição do tango argentino.
Críticas à Criação de El Caminito em Buenos Aires
Apesar de sua popularidade e contribuição para a economia local, a criação de El Caminito não esteve isenta de críticas. Alguns argumentam que a área se tornou excessivamente comercial e perdeu parte de sua autenticidade original. Há quem diga que a ênfase no turismo massivo resultou em uma gentrificação do bairro. Ou seja, esse processo resultou no deslocamento de famílias mais pobres à medida que os valores das propriedades aumentam e surgem novas atividades comerciais, muitas vezes desconectadas do contexto cultural original. Deste modo, houve o aumento do custo de vida para os moradores locais e diluindo a cultura genuína de La Boca.
No aspecto da dinâmica econômica, o artigo LA BOCA / BUENOS AIRES: cultura, mercado turístico e marginalidade escrito pelo pesquisador Michel Constantino Figueira, aponta que o desenvolvimento de El Caminito faz parte de uma estratégia econômica mais ampla que envolve decisões políticas locais e globais. Isso levou a uma produção de espaço que atende principalmente aos consumidores externos, e não à comunidade local.
Assim, a transformação de El Caminito em um ponto turístico pode ter marginalizado certos aspectos da comunidade local, que sentiu-se pressionada a adaptar-se às expectativas dos turistas em vez de manter suas tradições autênticas. Essas críticas levantam questões sobre o equilíbrio entre preservação cultural e desenvolvimento econômico, um desafio comum em áreas turísticas ao redor do mundo.
Minha experiência
Visitei essa parte da cidade de Buenos Aires na companhia dos amigos Soraia e Carlos. Foi uma visita rápida, ao final da tarde, e o que me chamou atenção foi o colorido do lugar, bem como a grande movimentação de turistas. Não tenho muito o que falar do lugar, visto que, a passagem foi bem rápida em virtude da minha ida para o Uruguai, mas a impressão é o lugar ser bem turístico mesmo e não sei se tem a ‘alma porteña’
Portanto, o Caminito com sua história rica, importância social e econômica e as críticas recebidas oferecem uma visão abrangente dos desafios e triunfos associados à preservação de patrimônios culturais em um mundo em constante mudança. Embora haja questões a serem resolvidas, El Caminito continua sendo um testemunho vibrante da resiliência e criatividade do povo de La Boca.
Essa relação entre gentrificação e turismo pode ser discutida considerando que as cidades geralmente se comercializam como destinos atraentes, o que pode levar à criação de espaços que atendem turistas e residentes abastados, deixando de lado as necessidades da população local.
Esse ponto é abordado, por exemplo, por Eduardo Nobre no artigo Intervenções urbanas em Salvador: turismo e gentrificação no processo de renovação urbana do Pelourinho. O pesquisador considera que no Pelourinho, em Salvador (BA), muitas propriedades foram reaproveitadas para atividades relacionadas ao turismo, como lojas de souvenirs, bares e restaurantes, refletindo uma mudança no uso da terra impulsionada pela indústria do turismo.
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